"uma festa sem beijo. uma noite sem amor. uma falta de coragem. um romance não vivido. um olhar triste e vago”. mapear as relações afetivas que construímos ao longo dos anos já vividos pode parecer uma tarefa tranquila, fácil – e até mesmo inocente –, se pensada como uma coleção arquivística, quase um catálogo técnico. mas afeto (assim como os produtos materiais da cultura – livros, peças, obras de arte) não é uma categoria tão simples de mapear, de catalogar inteligentemente, enfim, de cartografar.numa construção que parte da não cumplicidade com o compromisso científico da cartografia, como se deveria esperar de um título tal como se começa, anna claudia ramos expande em palavras o mesmo que institui no conto homônimo – espalha sobre o chão as fotos de família, as fotos do que constituiu até ali, as imagens que são recolhimentos delineados de construções/empresas/caminhadas-adentro afetivas. e nisso, mostra caminhos por onde melhor não passar, se quiser saber. e também aqueles por onde passar é sempre melhor.com ilustrações de Samantha Capatti e texto de quarta capa de José Eduardo Agualusa, o volume 07 da “coleção só prosa” – “série brasileira” (que traz um pouco da melhor prosa de ficção produzida no Brasil contemporâneo) – tem a alegria de apresentar a leitoras e leitores o segundo livro de anna claudia ramos destinado ao público adulto, que em vinte e três contos (ou microcontos, em sua parte) ‘cartografa’ as linhas da memória e, por isso, a vida, o que sentimos durante aquilo que construímos, mas sobre o que (quase) nunca paramos para pensar e, por isso, vai se esvaindo pelo tempo.