Há um gato metido nos sonhos de Gabi. Lá dentro, mergulhado na noite escura, ele ronrona, mia, afia as garras e atiça a fantasia, governando o onírico com perícia animal. Salta e se deita pelas profundezas do sono com seu estilo roliço e sinuoso, todo caprichos. Cá do lado de fora, porém, Gabi e Gato ainda não se conhecem. Questão de tempo... Um dia, uma surpresa aguarda a menina do outro lado da rua, ao acaso, escondida numa caixa de papelão. Com Gato e Gabi, Hellenice Ferreira e Martha Werneck constroem uma história com aura de sonho, ao mesmo tempo em que perseguem o lado adoravelmente selvagem que enlaça bicho e menina. Os versos, repletos de uma sonoridade desconcertante, convidam a passear por essa aventura que é o encontro entre Gabi e o felino. Um encontro de muitas matizes e significados, que foge ao óbvio e ao racional. As pinturas de Martha Werneck ressaltam o contato com o mágico e o misterioso que é, no fundo, a linha-mestra desta história. A pintora se inspirou na serra de Petrópolis, onde vive, e nos trabalhos do pintor francês Paul Gauguin, do pós-impressionismo, para trazer "o calor da natureza indomável da menina e do felino", como ela própria explica. As folhagens tropicais que acompanham Gato por todo o livro inundam aos poucos os cenários em que Gabi passeia - como uma ideia e um prazer podem inundar, aos poucos, o subconsciente. Com tudo isso, a dupla de autoras celebra a conexão entre a figura felina e o mundo misterioso que nos habita - porque, não à toa, gatos são uma presença marcante na vida e na obra de quem faz arte.