O que chama a atenção no conjunto da obra poética de Ana Cristina Cesar é o modo como procura incessantemente dizer o mundo além da apreensão cotidiana. Escritos desde a infância até as vésperas de sua morte, os poemas, fragmentos de diário e trechos em prosa reunidos neste livro comprovam essa obsessão. "Angústia é a fala entupida", afirmou. Mas não foi qualquer fala que buscou. Era preciso chegar ao cerne da palavra, descobrir a sonoridade e o movimento, respirar ao ritmo de uma desafiadora pulsação. Sua linguagem poética relacionava-se com uma realidade esteticamente reconstruída, fora da qual como que inexistia possibilidade de sobrevivência. Ana C. deixou na literatura brasileira a marca do talento e da modernidade, legando a seu público uma obra de perturbadora sensibilidade.